debora

Saturday, April 21, 2007

Descrição

Na aula presencial do pólo de Três Cachoeiras, foi assistido um pequeno filme retratando para mim o texto que segue:

“Era uma tarde de quarta-feira, o tempo cinzento e as pessoas eufóricas na praça central da cidade.
Eu observava que não poderia ser apenas mais um dia normal.
Horas observava o movimento das pessoas, hora pensava no que estava para acontecer.
Quando menos imaginei, o exército se pôs na praça e a escadaria na frente do palácio central foi devastada por policiais do exército, assim como as demais pessoas que geraram um enorme conflito.
Me pus a observar uma mãe que ao tentar proteger seu filho em um carrinho de bebê, se perde em meio o conflito. Ficou sem ação, assim como eu, só olhava e não agia.
Foi atingida no conflito por uma bala perdida e o bebê desceu no carrinho degrau por degrau. Sozinho, sem rumo e sem ninguém.
Eu fui atingida na alma e no rosto. Tinha lágrimas de sangue na face, prova do sentimento de angústia e tristeza em meio ao que observava naquela tarde cinza, de quarta-feira.”

Após ser realizada a descrição citada acima, iniciou-se uma discussão, uma troca de idéias sobre o que vimos e o que depois escrevemos.
As diferenças apareceram, as descrições até eram parecidas, mas houve “distorção” de olhares.
Alguns viram o bebê rolando em um carrinho escada abaixo, outras citaram que o mesmo bebê caiu num precipício. Quanta diferença!!!
Foi percebido e comentado sobre as diferenças e as semelhanças nos olhares de quem observa os fatos.
Olhar algo é claro para muitos, descrever o que se olha nem sempre é a tarefa mais fácil, porém um desafio para expressar o que olhamos.
Percebemos que muitas vezes nossa mente olha e nem questiona o que vê, simplesmente recepcionamos imagens e reproduzimos num papel como pensamos ser e não como realmente é.
Seria fácil descrever um fato após tê-lo observado mais vezes, talvez assim a verdade ficaria mais evidente em tais descrições.
Foi possível perceber descrições mais objetivas e outras mais poéticas, mas nem todas viram coisas iguais.
A atividade foi mais um desafio a ser enfrentado e realizado.
Tentei prestar atenção, mas ao final pude perceber que nem em tudo fui fiel ao que realmente havia sido mostrado.
Talvez aqui começo a repensar minhas atitudes em relação ao que realmente vejo ou o que digo ver.
Fiquei pensando também no modo que as pessoas vêem a minha pessoa, será que entendem o que digo e o que realmente faço?
Como será que nossos alunos enxergam suas professoras?
Quando sentimos dificuldades de descrever o que olhamos, quando percebemos que o que vimos nem sempre é o que realmente foi mostrado, começo a me preocupar com o que as pessoas pensam e vêem em mim.
A atividade me fez pensar melhor no que realizo, no que pesquiso.
Como seria diferente essa descrição, se pudéssemos ter olhado o filme bem devagar e por várias vezes. Sobre os fatos vistos, pesquisar sobre o ano que se passou tais acontecimentos e assim poder chegar a verdade.
Com certeza as visões mais exatas e verdadeiras não são aquelas julgadas no primeiro olhar, mas sim as que sofreram mais observação, pesquisa, dúvidas e incertezas.